O RELATÓRIO DA “OCDE” REVELA QUE O CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE MULTIFACTORIAL, DA RESPONSABILIDADE DOS PATRÕES, É NEGATIVO
RESUMO DESTE ESTUDO
A OCDE apresentou em Lisboa o seu relatório sobre Portugal referente a 2008. Na intervenção feita pelo seu secretário-geral, este substituiu a credibilidade técnica que esta organização pretendia ter, por uma defesa do neoliberalismo, defendendo que a redução do défice orçamental no nosso País devia continuar sem olhar às consequências, e que era necessário uma maior flexibilidade das leis do trabalho (leia-se precariedade) para aumentar a competitividade e assegurar, desta forma, o crescimento económico. E quando confrontado com a debilidade de tal argumento afirmou textualmente o seguinte: “Não interessam os resultados das reformas que o
O crescimento económico num país depende do aumento da produtividade. Normalmente fala-se apenas da produtividade do trabalho, procurando desta forma culpabilizar os trabalhadores pelo baixo crescimento económico. Segundo o relatório da OCDE, a produtividade do trabalho cresceu a uma taxa de 3,6% ao ano no período 1985-2000, e de 1,2% ao ano no período 2000-2005. Mas a chamada produtividade multifactorial registou em Portugal um “crescimento” negativo entre 2000-2005.. A produtividade multifactorial é a produtividade conjunta de todos os factores de produção (trabalho, capital, etc.) que revela a eficiência/ineficiência como esses factores são utilizados. E como revelam os dados constantes do relatório da OCDE, no período 2000-
O relatório da OCDE vem agora também reconhecer que a desindustrialização verificada em Portugal é uma das causas da baixa produtividade portuguesa. E isto porque a contribuição por trabalhador da industria para a produtividade total é superior à dos serviços, e com a desindustrialização o emprego na industria diminuiu tendo aumentado nos serviços, o que provocou a descida média na produtividade do trabalho em Portugal. A culpabilização dos trabalhadores pela baixa produtividade em Portugal é assim também desmentida pelos próprios dados contidos no relatório da OCDE sobre Portugal.
O governo pretende flexibilizar do emprego aumentando a insegurança dos trabalhadores.Com esse objectivo assinou um acordo com os patrões e a UGT para alterar o Código do Trabalho. No entanto, continua a reduzir o apoio aos desempregados. Só nos cinco primeiros meses de
A OCDE acabou de apresentar o seu relatório sobre Portugal referente ao ano de 2008. Esta organização que agrupa 36 países, e que gosta de se apresentar como uma organização independente, neutral e com credibilidade técnica, substituiu tudo isto pela defesa aberta do neoliberalismo. Efectivamente, o seu secretário geral, Angel Curria, num discurso feito para agradar o ministro das Finanças, que estava presente, uniu-se ao governo e aos patrões para defender a continuação da politica de redução do défice orçamental não olhando a consequências, e para exigir uma maior flexibilidade (precariedade) das relações de trabalho em Portugal, considerando isso indispensável para aumentar a competitividade do País e, assim, assegurar um crescimento sustentável. No entanto, dados constantes do próprio relatório da OCDE desmentem essas afirmações do secretário geral da OCDE, revelando que um dos problemas económicos mais graves que o nosso País enfrenta é o crescimento negativo da produtividade multifactorial verificada nos últimos anos, que é da responsabilidade directa dos patrões portugueses. É o que vamos mostrar neste estudo.
A PRODUTIVIDADE DO TRABALHO É BAIXA
O crescimento económico de um país depende fundamentalmente do aumento da produtividade. De acordo com a teoria económica capitalista existem vários factores – trabalho, capital, etc., - que contribuem para a produção e é com base neles que calcula a produtividade. A produtividade mais conhecida e utilizada é a do trabalho, que dá o valor da produção, medido em unidades físicas ou em unidades monetárias, por trabalhador ou por hora de trabalho. Ao reduzir o problema da produtividade apenas ao trabalho o que se pretende, no fundo, é responsabilizar os trabalhadores pelas baixas taxas de crescimento económico e justificar medidas gravosas contra eles. É o que se está a verificar neste momento em Portugal, em que governo e patrões têm procurado polarizar o chamado problema da competitividade na necessidade de flexibilizar ainda mais (tornar ainda mais precárias) as relações laborais No entanto, também se calcula a produtividade conjunta de todos os factores de produção ou recursos utilizados, a que a mesma teoria económica chama produtividade multifactorial. Neste estudo, para podermos utilizar dados oficiais da OCDE e também para utilizar conceitos que são geralmente usados nos media, e assim facilitar a compreensão, vamos utilizar os conceitos da teoria económica capitalista.
Segundo o relatório da OCDE, “o aumento da produtividade do trabalho, medida
GRÁFICO 1
Fonte : OECD Economic Surveys – PORTUGAL – June 2008, págs. 23 e 24
Entre 2000 e 2005, como mostra o gráfico, a produtividade multifactorial diminuiu -0,5% ao ano. Como neste período a produtividade do trabalho aumentou 1,2% ao ano, aquele “crescimento” negativo verificado na produtividade multifactorial só pode ter sido devido a um “crescimento” negativo anual muito superior a -0,5% ao ano verificada na produtividade dos outros factores de produção, que não o trabalho. Entre eles está o chamado factor capital, e também recursos como a energia, os materiais, etc… A ineficiente utilização dos outros factores de produção, que determinou que a chamada produtividade multifactorial tenha tido um”crescimento negativo” de -0,5% ao ano no período 2000-2005, é da responsabilidade directa dos patrões portugueses, pois é a eles que cabe organizar a utilização eficiente de todos os factores de produção. E isso está dependente da sua capacidade de organização e gestão. E os dados da própria OCDE constantes do relatório sobre Portugal mostram, de uma forma quantificada e objectiva, que o problema mais grave para o País não está na chamada “rigidez” das relações laborais em Portugal, mas sim a ineficiente utilização de todos os recursos que as empresas dispõem, principalmente dos outros recursos que não apenas o trabalho, consequência da deficiente capacidade de organização e gestão dos patrões portugueses. Este é um problema que o governo, as associações patronais, a UGT e os secretário geral da OCDE esconderam, procurando desviar a atenção para a flexibilização das relações laborais com o objectivo de reduzir custos à custa dos trabalhadores.
A DESINDUSTRIALIZAÇÃO QUE SE TEM VERIFICADO EM PORTUGAL CONTRIBUI, SEGUNDO A OCDE, PARA A BAIXA PRODUTIVIDADE PORTUGUESA
De acordo com o Banco de Portugal no período 1985-
QUADRO II – Variação do emprego por sectores de actividade em Portugal no período 2005-08
SECTORES | 1º Trim. - Milhares | Variação | % do TOTAL | ||
2005 | 2008 | 2008-05 | 2005 | 2008 | |
PRIMÁRIO (Agricultura, silvicultura e Pescas) | 602,4 | 558,8 | -7,2% | 11,8% | 10,8% |
SECUNDÁRIO (Industria, Construção, Energia) | 1.565,1 | 1.537,4 | -1,8% | 30,7% | 29,8% |
Ind. Transformadora | 982,0 | 926,5 | -5,7% | 19,3% | 18,0% |
TERCEÁRIO (Serviços) | 2.926,9 | 3.064,6 | 4,7% | 57,5% | 59,4% |
TOTAL (Emprego) | 5.094,4 | 5.160,8 | 1,3% | 100,0% | 100,0% |
FONTE: Estatísticas do Emprego - 4ºTrimestre de 2005 e 1º Trimestre de 2008 – INE |
Entre 2005-2008, ou seja, em 3 anos de governo Sócrates, o emprego no sector Primário (Agricultura, Silvicultura e Pescas), diminuiu em -7,2% (-43.600); no sector Secundário baixou em -1,8% (-27.700), tendo atingido na Industria Transformadora uma redução de -5,7% (- 55.500).
Apenas nos serviços (Sector Terciário) é que se verificou um aumento de 4,7% ( + 137.700).
O relatório da OCDE sobre Portugal vem agora reconhecer que a industrialização verificada em Portugal é uma das causas da baixa produtividade portuguesa. E isto porque como mostra o gráfico seguinte, construído com dados desse relatório, a contribuição da industria para o crescimento da produtividade total do sector privado é superior à dos serviços
GRÁFICO 2
FONTE: OCDE Economic Surveys – PORTUGAL – June 2008 – pág. 27
Como a produtividade na Indústria Transformadora é, em Portugal, superior à produtividade nos serviços, sejam “Comércio, Transportes e Comunicações”, cuja contribuição foi mesmo negativa no período 2000-2005, ou “Serviço Financeiros”, como revelam os dados do relatório da OCDE, com a desindustrialização do País, e a transferência de emprego da Industria para o sector de serviços, a produtividade geral tem diminuído em Portugal. Este é um aspecto que o governo e os patrões, na análise da produtividade e da competitividade têm continuamente ocultado.
O GOVERNO FLEXIBILIZA A LEI , AUMENTA A INSEGURANÇA, MAS DINIMUI A DESPESA COM O DESEMPREGO, FAZENDO CRESCER O SALDO DA SEGURANÇA SOCIAL E REDUZ AS CONTRIBUIÇÕES DOS PATRÕES
Os dados do Boletim Informativo da Direcção Geral do Orçamento do Ministério das Finanças, relativos à execução do Orçamento da Segurança Social no período Janeiro a Maio, constantes do quadro seguinte, revelam uma descida muito acentuada da despesa com o subsidio de desemprego e um elevado saldo global da Segurança Social.
QUADRO I – Variação da despesa com o subsidio de desemprego e do Saldo Global
da Segurança Social no período Janeiro /Maio de 2007 e 2008
RÚBRICAS | Janeiro/Maio - Milhões euros | VARIAÇÃO | 2008-07 | |
2007 | 2008 | 2008-2007 | Milhões euros | |
Subsidio de desemprego | 758,3 | 652,2 | -14,0% | -106,1 |
SALDO GLOBAL | 781,0 | 1.556,0 | + 99,2% | + 775,0 |
FONTE : Boletim Informativo - Maio de 2008 – DGO - Ministério das Finanças |
Nos cinco primeiros meses de 2008 registou-se uma redução na despesa
Como consequência da diminuição do valor das pensões e da redução da despesa com o subsidio de desemprego, o Saldo Global da Segurança Social disparou tendo passado, entre 2007 e 2008, e relativamente apenas aos cinco primeiros meses de cada um destes anos, de 781 milhões de euros para 1.566 milhões de euros, ou seja, teve um aumento de 99,2%. Aproveitando o excedente assim criado à custa dos reformados e dos desempregados, o
Eugénio Rosa
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