domingo, fevereiro 18, 2007

APENAS 9% DOS LICENCIADOS SÃO DAS ÁREAS ENGENHARIA E INFORMÁTICA, E NOS TRÊS ÚLTIMOS ANOS O EMPREGO DE ESCOLARIDADE ELEVADA DIMINUIU EM 97 MIL E O DESEMPREGO DE LICENCIADOS AUMENTOU 64%

RESUMO DESTE ESTUDO

A educação é um factor determinante quer do desenvolvimento de um país, quer do nível de rendimento das famílias. Segundo o INE, em 2006, a remuneração média de um trabalhador com o ensino básico era apenas de 565€; com o ensino secundário 758€ (+34%) e com o ensino superior 1.355€ (+140%). Portugal, para além do problema do baixo nível de escolaridade (cerca de 71% da população empregada possui apenas o ensino básico ou menos), tem também um problema de inadequação das saídas quer do ensino secundário quer do ensino superior às necessidades de desenvolvimento do País, problema este que é normalmente esquecido.

A falta de adequação das saídas tanto do ensino secundário como do ensino superior às necessidades de desenvolvimento do País, que resulta da ausência total de qualquer planeamento nesta área fundamental, e da “fé” na actuação do mercado, está a determinar custos elevados para o País, para as famílias e para os próprios afectados, e desemprego e atraso para Portugal. .

A percentagem de alunos inscritos em Portugal no ensino secundário profissional é significativamente inferior à dos países da União Europeia. Em 2005, era de apenas 10,5% no nosso País, enquanto a média na União Europeia atingia 56%, ou seja, 5,3 vezes mais. No ano lectivo de 2006/2007, portanto um ano muito recente, a situação não se tinha alterado muito pois a percentagem de alunos inscritos no ensino secundário profissional era apenas 13,3%, o que correspondia praticamente a metade da registada no nosso País em 1998, que foi de 25,5%.

E não se pense que a reduzida importância do secundário profissional é compensada por uma elevada participação de adultos em formação e educação. A participação anual de adultos em acções de formação e de educação em Portugal continua a ser muito inferior à media da União Europeia (menos de 2,5 vezes), e tem diminuído com o actual governo pois, de acordo com o Eurostat,, entre 2004 e 2006, baixou de 4,3% para apenas 3,8%

O ensino superior tecnológico, e aqui incluímos nomeadamente as áreas de engenharia e informática, fundamental para alcançar taxas de crescimento económico elevadas, continua a ter em Portugal uma reduzida importância. Entre 2000 e 2006, licenciaram-se em Portugal 404.268 portugueses. No entanto, deste total, apenas 9% (36.185) foram nas áreas de engenharia e informática. Os licenciados em ciências físicas e matemáticas foram muito menos, pois representaram somente 2,9% do total (11.778). Os licenciados, associados actualmente a maior desemprego, como são os das Ciências da Educação, Artes, Humanidades, Sociologia, Psicologia, Jornalismo e Direito representaram cerca de 40% de todos os licenciados que saíram das Universidades neste período, ou seja, atingiram 161.201.

Apesar da percentagem da população empregada portuguesa com o ensino superior ( cerca de 14% no fim de 2007) ser inferior a menos de metade da media europeia, as consequências negativas da distorção que se verifica na saída de licenciados das Universidades portuguesas é ainda agravada pelo facto da economia portuguesa não estar a criar empregos suficientes que exigem nível escolaridade elevada para absorver mesmo aquele o baixo número de licenciados saídos das Universidades portuguesas; muito pelo contrário, verificou-se durante os últimos três anos em Portugal uma redução do número de empregos que exigem maior escolaridade e maior qualificação. Assim, entre o 4º Trimestre de 2001 e o 4º Trimestre de 2004, os empregos que exigem “Qualificação e escolaridade elevada”, que inclui os “quadros superiores”, os “especialistas das profissões intelectuais e cientificas” e os “técnicos e profissionais de nível de intermédio”, aumentaram em 226,7 mil, enquanto nos três anos seguintes, ou seja, no período 4ºTrimestre 2004 a 4º Trimestre de 2007 com o actual governo, sucedeu precisamente o contrário, pois este tipo de empregos (os que exigem maior escolaridade e qualificação) diminuíram em 96,6 mil, sendo fundamentalmente atingidos os quadros superiores.

Como consequência o desemprego de licenciados disparou em Portugal. Entre o 1º Trimestre de 2005, data em que Sócrates tomou posse, e o 4º Trimestre de 2007, o desemprego total aumentou 6,5%, mas o desemprego de licenciados cresceu 63,6%. Mesmo se compararmos o 4º Trimestre de 2004 com o 4º Trimestre de 2007, por ser tecnicamente mais correcto comparar trimestres homólogos, conclui-se que desemprego total cresceu 12,8%, enquanto o desemprego de licenciados aumentou 54%, , ou seja, mais de quatro vezes

Alan Spangreen, o ex-presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, faz no seu livro “A era da turbulência” uma defesa irracional do “mercado”, e da “desregulamentação” considerando-os como os únicos instrumentos que garantem a aplicação eficiente dos recursos de um país. E isto apesar da experiência desmentir continuamente esta “teoria” neoliberal. A prová-lo está o que se verifica actualmente nos próprios Estados Unidos onde a crise financeira (subprime), que resultou precisamente da desregulamentação total que se observa neste país, está a atirar a economia americana para a recessão, e a provocar o abrandamento económico nos países da União Europeia, com consequências graves também em Portugal. O caso da educação no nosso País é mais um exemplo comprovativo da falta de consistência cientifica daquela “teoria” neoliberal, como vamos mostrar neste estudo utilizando apenas dados oficiais.

A INSCRIÇÃO DE ALUNOS NO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL É EM PORTUGAL CINCO VEZES INFERIOR À MÉDIA DOS PÁISES DA UE27

O ensino secundário profissional é um dos pilares de crescimento económico em qualquer país. Em Portugal, as inscrições no ensino secundário profissional são muito inferiores às verificadas nos países da União Europeia, como mostram os dados do Eurostat constantes do quadro seguinte.

QUADRO I – Percentagem de alunos inscritos no secundário profissional na UE27 e em Portugal

PAÍSES/Sexo

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

UE27

Homens

59,3%

63,6%

58,1%

58,7%

59,8%

57,9%

57,9%

58,0%

Mulheres

49,8%

55,1%

52,2%

52,7%

55,6%

53,5%

53,9%

53,9%

Média

54,6%

59,4%

55,2%

55,7%

57,7%

55,7%

55,9%

56,0%

PORTUGAL

Homens

29,6%

29,1%

8,1%

32,7%

32,9%

10,2%

10,4%

12,5%

Mulheres

21,6%

21,2%

6,0%

24,3%

24,9%

7,5%

8,0%

8,7%

Média

25,6%

25,2%

7,1%

28,5%

28,9%

8,9%

9,2%

10,6%

DIFERENÇA:EU-PT

29pp

34pp

48pp

27pp

28,8pp

46,9pp

46,7pp

45pp

FONTE: Eurostat

A percentagem de alunos inscritos no ensino secundário profissional é, em Portugal, significativamente inferior à verificada nos países da União Europeia. A percentagem no nosso País, no ano de 2005, é 2,5 vezes inferior à de 1998. E, em 2005, último ano de que se dispõem dados do Eurostat, a percentagem portuguesa (10,5%) era 5,3 vezes inferior à média dos países da União Europeia (56%)

Por outro lado, o fosso entre Portugal e a União Europeia aumentou significativamente nos últimos anos pois, entre 1998 e 2005, passou de 29 pontos percentuais para 45 pontos percentuais como mostram também os dados do quadro anterior.

A SITUAÇÃO A NIVEL DO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL NÃO MEHOROU NO ANO LECTIVO 2006/2007

O quadro seguinte, construído com dados do Ministério da Educação, revela que a situação, neste campo, não melhorou no ano lectivo 2006/2007.

QUADRO II – Alunos inscrito no ensino secundário no ano 2006-2007 por áreas

SECUNDÁRIO

2006-2007

Alunos

% TOTAL

REGULAR

239.223

67,1%

Científicos Humanísticos

182.780

51,3%

Cursos Gerais (12º)

13.767

3,9%

Cursos Tecnológicos (*)

40.320

11,3%

Cursos Tecnológicos (12º)

2.356

0,7%

Artístico

2.256

0,6%

PROFISSIONAL

47.460

13,3%

CEF

5.083

1,4%

Recorrente

62.564

17,5%

TOTAL

356.586

100,0%

(*) Portaria 550-A/2004

FONTE: Portugal: Recenseamento Escolar-2006/07-GIASE-ME

No ano lectivo 2006/2007, apenas 13,3% dos alunos do ensino secundário estavam inscritos em cursos profissionais, o que revela uma clara subvalorização deste tipo de ensino em Portugal, que não acontece nos países mais desenvolvidos da União Europeia.

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ADULTOS NÃO SUBSTITUI NEM COMPENSA A REDUZIDA IMPORTÂNCIA DO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL EM PORTUGAL

E não se pense que reduzida importância do secundário profissional é compensada por uma elevada participação de adultos em acções de formação profissional e de educação. Por um lado, o secundário profissional não é substituível pelos cursos de formação profissional e, por outro lado, continua-se a registar em Portugal uma reduzida participação de adultos nas acções de formação como mostram os dados do Eurostat constante do quadro seguinte.

QUADRO III – Participação de adultos em acções de formação ou educação no período 2000-2006

PAÍSES

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

UE27

7,1%

7,1%

7,2%

8,5%

9,3%

9,7%

9,6%

UE15

8,0%

8,0%

8,1%

9,8%

10,7%

11,2%

11,1%

PORTUGAL

3,4%

3,3%

2,9%

3,2%

4,3%

4,1%

3,8%

FONTE: Eurostat – 2008

A participação anual de adultos (25-64 anos) em acções de formação e educação em Portugal é cerca de 2,5 inferior à media da União Europeia. E a percentagem de participações até diminuiu durante os dois anos de governo de Sócrates de que se têm dados disponibilizados pelo Eurostat pois, entre 2004 e 2006, baixou de 4,3% para apenas 3,8%.

APENAS 9% DOS LICENCIADOS QUE SAIEM DAS UNIVERSIDADES PORTUGUESEAS SÃO DAS ÁREAS DE INFORMÁTICA E ENGENHARIA

O ensino superior tecnológico, e aqui incluímos nomeadamente as áreas de engenharia e informática, fundamentais para alcançar elevadas taxas de crescimento económico, continua a ter em Portugal uma reduzida importância, como mostram os dados do quadro seguinte.

QUADRO IV – Licenciados das Universidades Portuguesas no período 2000 a 2006

AREA DE ESTUDO

2000/2001 a 2005/2006

2000/01-2005/06 %TOTAL

2005/ 2006

2005/06 % TOTAL

Ciências Educação (professores) +Artes +Humanidades+Sociologia e Psicologia + +Jornalismo+Direito

161.201

39,9%

25.462

35,4%

Ciências Empresarias

62.990

15,6%

10.531

14,7%

Ciências da Vida + Saúde

67.921

16,8%

14.423

20,1%

Ciências Físicas+Matemática + Estatística

11.778

2,9%

1.950

2,7%

Informática

6.421

1,6%

1.114

1,6%

Engenharia e Técnicas afins

29.764

7,4%

5.473

7,6%

Outras áreas

64.193

15,9%

12.875

17,9%

TOTAL

404.268

100,0%

71.828

100,0%

FONTE: Anuário Estatístico de Portugal - INE- 2006

Entre 2000 e 2006, licenciaram-se em Portugal 404.268 portugueses. No entanto, deste total, apenas 9% (36.185) foram nas áreas de engenharia e informática. Os licenciados em ciências físicas e matemáticas representaram somente 2,9% do total (11.778). Os licenciados associados actualmente a maior desemprego, como são os das Ciências da Educação, Artes, Humanidades, Sociologia, Psicologia, Jornalismo e Direito é que tiveram maior importância, pois representaram cerca de 40% de todos os licenciados que saíram das Universidades neste período (161.201).

E a situação não se está a alterar muito rapidamente, como provam os dados de licenciados no ano lectivo 2005-2006, em que apenas 9,2% eram das áreas de engenharias e informáticas, continuando os das áreas de Ciências da Educação, Artes, Jornalismo, Sociologia , Psicologia e Direito a representar a maioria, com 35,4% de todos os licenciados.

EMPREGO DE ESCOLARIDADE MAIS ELEVADA TEM DIMINUIDO DURANTE O GOVERNO DE SÓCRATES E O DESEMPREGO DE LICENCIADOS DISPAROU

Apesar da percentagem da população empregada portuguesa com o ensino superior (apenas 14% no fim de 2007) ser inferior a metade da media europeia, as consequências negativas da distorção na saída de licenciados das Universidades portuguesas é ainda agravada pelo facto da economia portuguesa não estar a criar empregos suficientes de nível escolaridade elevada para absorver aquele número insuficiente numero de licenciados; muito pelo contrário, durante o governo de Sócrates até verificou uma redução do número de empregos que exigem maior escolaridade e maior qualificação, como mostram os dados do INE constantes do quadro seguinte.


QUADRO V – Variação do número de empregos em Portugal que exigem escolaridade e qualificação elevada entre o 4º Trimestre de 2001 e 4º Trimestre de 2007

GRUPOS PROFISSIONAIS

4ºTrim.

4º Trim.

4º Trim.

4Tº2004 -4Tº2001

4ºT2007 -4ºT2004

2001

2004

2007

MILHARES

Quadros superiores e dirigentes Ad.Pub e empresas

360,3

453,5

311,9

+ 93,2

-141,6

Especialistas das profissões intelectuais e cientificas

363,1

446,7

448,1

+ 83,6

+ 1,4

Técnicos e profissionais de nível intermédio

372,8

422,7

466,3

+ 49,9

+ 43,6

QUALIFICAÇÃO E ESCOLARIDADE ELEVADA

1.096,2

1.322,9

1.226,3

+ 226,7

-96,6

QUALIFICAÇÃO E ESCOLARIDADE MÉDIA (Administrativos, pessoal de serviços e vendedores)

1.202,8

1.205,0

1.247,6

+ 2,2

+ 42,6

QUALIFICAÇÃO DE BANDA ESTREITA E DE BAIXA ESCOLARIDADE (Agricultores e trabalhadores da agricultura, operários, operadores de máquinas e trabalhadores não qualificados)

2.767,0

2.567,5

2.679,0

-199,5

+ 111,5

TOTAL

5.066,0

5.095,4

5.152,9

+ 29,4

+ 57,5

FONTE. Estatísticas do Emprego - 4º Trimestres de 2002 e 2007 – INE

Entre o 4º Trimestre de 2001 e o 4º Trimestre de 2004, os empregos que exigem “Qualificação e escolaridade elevada”, que inclui os “quadros superiores”, os “especialistas das profissões intelectuais e cientificas” e os “técnicos e profissionais de nível de intermédio”, aumentaram em 226,7 mil, enquanto nos três anos seguintes, ou seja, no período 4ºTrimestre 2004 a 4º Trimestre de 2007, os empregos de profissões que exigem maior escolaridade e qualificação diminuíram em 96,6 mil, sendo fundamentalmente atingidos os quadros superiores. Em relação ao emprego de escolaridade média e mais baixa verificou-se precisamente o contrário, como revelam os dados do quadro anterior

Esta maior destruição do que criação de empregos que exigem maior escolaridade e qualificação que se está a verificar em Portugal há três anos a esta parte, associada à distorção que se verifica a nível de saídas das Universidades portuguesas determinou que o desemprego de licenciados tenha disparado como mostram os dados do quadro seguinte.

QUADRO VI – Variação do desemprego em Portugal por níveis de ensino no período

4º Trimestre de 2004 a 4º Trimestre de 2007

ESCOLARIDADE

4ºTrimestre

1ºTrimestre

4ºTrimestre

VARIAÇÃO

2004

2005

2007

4T2007-4T2004

4T2007-1T2005

Até ao básico

292.200

313.200

306.800,0

5,0%

-2,0%

Secundário

55.000

59.300

67.100,0

22,0%

13,2%

Superior

42.600

40.100

65.600,0

54,0%

63,6%

TOTAL

389.800

412.600,0

439.500,0

12,8%

6,5%

FONTE: Estatísticas de Emprego 4ºTrim2004, 1ºTrim. 2005 e 4º Trimestre 2007- INE

Entre o 1º Trimestre de 2005, data em que o governo de Sócrates tomou posse, e o 4º Trimestre de 2007, o desemprego total aumentou 6,5%, mas o desemprego de licenciados cresceu 63,6%. Mesmo se compararmos o 4º Trimestre de 2004 com o 4º Trimestre de 2007, por ser tecnicamente mais correcto comparar trimestres homólogos, conclui-se que desemprego total cresceu 12,8%, enquanto o desemprego de licenciados aumentou 54%, , ou seja, quatro vezes mais.

A livre actuação do mercado, de que são exemplos as universidades privadas (em 2004, os licenciados saídos das universidade privadas representaram 29,5% do total de licenciados, mas na área das Ciências da Educação corresponderam a 34,6%; na de sociologia e psicologia a 40,7%; na de jornalismo a 38,8%; na de direito a 46,2%; na das ciências sociais a 67,3%, etc.; são as conhecidas “universidades do lápis e papel” mais interessados em obter lucros, por isso escolhem cursos com menores investimentos); repetindo, a actuação do mercado mesmo nesta área e a ausência total de planeamento que se verifica na área da educação em Portugal está a ter consequências nefastas para o País e para as famílias.

Eugénio Rosa

Economista

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